Rios Amazônicos
No início de junho de 2021, o Rio Negro, um dos principais rios afluentes do Rio Amazonas, atingiu o nível mais alto desde o início dos registros históricos, em 1902. Várias cidades do estado do Amazonas foram afetadas, com mais de
400 mil pessoas atingidas. Alguns meses antes, no início de março, foi o Rio Madeira, também da Amazônica que atingiu picos de vazões, ainda que não tenha a cota de inundação.
Esses dois eventos hidrológicos de 2021 são interessantes para ilustrar que, mesmo esses rios fazendo parte da mesma bacia hidrográfica, seus picos de vazão ocorreram em períodos distintos, com espaçamento de cerca de dois meses. Esse comportamento é um aspecto típico de grandes bacias hidrográficas no mundo, em que os rios de suas sub-bacias podem apresentar comportamentos bem diferentes entre si.
A Bacia Amazônia é a maior bacia hidrográfica do mundo, distribuída em 9 países da América do Sul, com 6,1 milhões de km², representando cerca de 15% da vazão de água doce do mundo, com uma vazão média anual de 209.000 m³/s. Além disso, quatro dos dez maiores rios do mundo estão nela: o próprio Rio Amazonas, o Rio Negro, o Rio Madeira e o Rio Japurá. De um modo geral, os rios amazônicos são bastante sazonais; o Rio Amazonas, por exemplo, pode apresentar grande variedade na vazão, com pico de 258.900 m³/s, registrado na cheia de 2009; e vazões mínimas de 60.000 m³/s, registrada nas secas de 2005 e 2010.
Os principais tributários do Amazonas são o Madeira, o Negro e o Solimões, que apresentam características e comportamentos muito distintos entre si. A Bacia do Rio Madeira – a maior sub-bacia amazônica em termos de área de drenagem, vazão líquida e vazão sólida – por exemplo, recebe contribuição da Cordilheira dos Andes, um complexo montanhoso marcado por intenso processo erosivo, comparável apenas com o Himalaia e com o sudeste asiático. Por isso, o Rio Madeira possui grande quantidade de sedimentos em suspensão, sendo um dos principais responsáveis pelo aporte sedimentar da Bacia Amazônia no Oceano Atlântico.
O Rio Solimões também é um Rio que recebe contribuição dos Andes, mais especificamente dos Andes peruanos, sendo também um rio com bastante sedimentos em suspensão. De um modo geral, praticamente metade da carga de sedimentos em suspensão no Rio Amazonas dos Andes bolivianos através do Rio Madeira e outra metade vem dos Andes peruanos, através do Solimões. Nesses dois casos, as águas dos rios são chamadas de águas brancas, por possuírem coloração barrenta devido aos sedimentos presentes.
A Bacia do Rio Negro, por sua vez, não apresenta processo erosivo como dos rios com contribuição andina, fazendo com que suas características sejam bem diferentes. Como o processo erosivo na bacia é menos intenso, o Rio Negro é marcado por baixa concentração de sedimentos, mas alta concentração de matéria orgânica proveniente da cobertura vegetal. Esse é um dos motivos de as águas do Rio Negro serem chamadas de águas negras ou águas pretas.
Um dos fenômenos mais marcantes dos rios amazônicos é o encontro dessas águas de origens e características tão distintas. Os principais encontros são entre os rios Negro e Solimões próximo à cidade de Manaus (AM) e dos rios Tapajós e Amazonas, próximo à Santarém (PA). Em ambos os casos, o encontro se dá entre águas brancas e águas negras, cujo processo de mistura não é imediato devido às diferenças de temperatura e densidade das águas.
Por sua dinâmica própria, estudar a Bacia Amazônica e seus rios é um dos grandes desafios da engenharia ambiental no Brasil do século XXI, pois deve ser pautado em princípios de sustentabilidade e eficiência, uma vez que as águas devem atender seus múltiplos usos, como a subsistência de comunidades tradicionais e cidades, transporte de pessoas e cargas e geração de energia hidroelétrica. O desenvolvimento do território amazônico e, consequentemente, do Brasil requer esforços e saberes multidisciplinares; só assim podemos vislumbrar um desenvolvimento verdadeiramente sustentável do país. A Sanear conta com uma equipe engajada e atualizada nos desafios de engenharia não só dos rios amazônicos como de todo Brasil.